LIVROS E BICHOS

Este é o blog da Tércia Montenegro, dedicado preferencialmente a livros e bichos - mas o internauta munido de paciência também encontrará outros assuntos.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Estreia "O Trem das Onze" em São Paulo





Memória, mistério e silêncio e a espera por um trem que nunca vem. Ou já passou?

Inspirado na obra "Linha Férrea" da escritora Tércia Montenegro, premiada pela revista CULT, a peça retrata as tragédias que aconteceram numa velha ferrovia. Os personagens encontram-se em situações-limite. 

O espetáculo busca estudar o comportamento do ser humano perante uma situação limite, fazendo com que este indivíduo revele seus instintos mais primitivos, evidenciando um lado que, quase sempre, é desconhecido pela sociedade, esta mesma que o faz carregar uma culpa sufocante e mortal.

Os caminhos se cruzam-se em histórias como a de um filho que pretende fazer um inusitado passeio com sua madrasta tetraplégica, uma procissão nos trilhos ou de uma bailarina que sofre de amor, passando por um homem que paga por um crime do passado, o administrador da ferrovia atormentado, uma presa que sonha em ser enterrada de santa e uma menina que deseja vingança. Todos estes personagens estão ligados . Seus caminhos se cruzam.

Um passeio, cercado de pessimismo, crueldade, misticismo e vingança.


Elenco: Beatriz Aguera, Edgar Cardoso, Érica Ribeiro, Gizelle Faria, Lucas Sancho, Rodrigo Morais e Thaize Pinheiro.

Dramaturgia e Direção: Lucas Sancho

Assistência de direção: Thaize Pinheiro

Preparação Vocal e Arranjos de Coro: Carol Capacle

Direção de Arte: O Grupo

Músicas: Daniel Groove

Serviço: de 5 a 27 de Março - Terças e Quartas às 21h - Espaço Cultural Pinho de Riga (Rua Conselheiro Ramalho, 599)

Contato: 11 97960.0180 (Lucas Sancho)


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Conto sobre futebol

Amigos,

Vejam esta notícia sobre mais uma antologia ótima, organizada pelo Ruffato. Desta vez, o tema é futebol, e eu me sinto muito feliz em poder participar deste "time" (com o perdão do trocadilho inevitável).
Vamos aguardar, que logo, logo essa coletânea estará pronta!

http://www.publishnews.com.br/telas/clipping/detalhes.aspx?id=72256


Seleção brasileira de contos

O Estado de S. Paulo - 23/02/2013 - Maria Fernanda Rodrigues
Coletânea organizada por Luiz Ruffato será lançada em Frankfurt
Luiz Ruffato organizou e sua editora alemã, a Assoziation, lançará na Feira de Frankfurt, em outubro, a coletânea Entre as Quatro Linhas - Contos Brasileiros Sobre Futebol, adiantou a coluna Babel. A coletânea terá contos de 15 autores: Mário Araújo, Fernando Bonassi, Ronaldo Correia de Brito, Eliane Brum, Flávio Carneiro, André de Leones, Tatiana Salem Levy, Adriana Lisboa, Ana Paula Maia, Tércia Montenegro, Marcelo Moutinho, Rogério Pereira, Carola Saavedra, André Sant’Anna e CristovãoTezza. Além disso, a coluna afirmou que a renomada Suhrkamp, casa de Brecht e mais recentemente de Marcelo Ferroni e Daniel Galera, prepara revista com o perfil de editoras, editores e autores brasileiros com quem trabalha.

Carnaval na Ucrânia


CARNAVAL NA UCRÂNIA

             O amigo Urik pensou que eu tinha sido vítima de um sequestro, quando contei que estive em Prudentópolis, no feriado. Ao contrário, viajei por espontânea vontade – garanti – e não poderia desejar um carnaval melhor, justamente por não haver qualquer espírito carnavalesco no interior do Paraná. Escolhi Prudentópolis tão logo soube que 81% dos imigrantes ucranianos que vieram para o nosso país se estabeleceram lá: minha paixão pela cultura eslava se eriçou, com a possibilidade de visitar igrejas bizantinas. Em pleno carnaval, eu trocaria o som de forró e axé por missas cantadas no ritual de São Crisóstomo; substituiria cerveja ou patinhas de caranguejo pela degustação de perohê, borstch e holopti.
             Embarquei para a “terra dos pinheirais” cheia de expectativas – e não me frustrei. Cada detalhe da paisagem, repleta de monjoleiros num terreno ondulado a perder de vista, era motivo de êxtase. As pessoas também – com o seu jeito simples e educado, de rosto muito branco e olhos claros – me fizeram sentir acolhida. “Mas veio de tão longe, fazer o quê?” – perguntavam, com certa vergonha. Quando eu respondia que era escritora, todos ficavam solícitos, emprestando livros, mostrando fotos, documentos. D. Meroslawa Krevei, curadora do Museu do Milênio, transportou-me a 1896, quando chegaram as carroças de Henrique Kremmer, trazendo as primeiras levas de imigrantes eslavos. Em Prudentópolis, eles introduziram as casas de madeira, com lambrequins nas platibandas. Trouxeram o seu bordado típico, seus teares, sua música (com os banduristas, que ainda hoje tocam em festas) e seu idioma que – ai! – durante a época de “nacionalização” imposta por Vargas, ficou proibido. Mas ainda assim os descendentes da Ucrânia tentaram salvar a presença de sua língua no Brasil – e os padres de São Josafat, para burlar a fiscalização (que exigia missas em português), faziam o sermão de joelhos, voltados para o altar.
            A Igreja Católica Ucraniana incorporou muitos rituais populares pré-cristãos, como a manufatura de pêssankas (ou pisankas, para os poloneses). Do verbo “pessaty”, que significa “escrever”, nasceu o nome dessa pintura delicadíssima, feita na casca de ovos. Pude conhecer a artesã Vera Daciuk, que me mostrou o processo mágico de primeiro retirar clara e gema por um orifício minúsculo, feito com uma seringa. Depois, o ovo (de galinha, de codorna ou até mesmo de avestruz!) é pintado com cera de abelha em bico de pena aquecido por uma vela, antes de ser repetidamente mergulhado em anelina (uma para cada cor). Na limpeza final, com vinagre, o colorido e os símbolos traçados surgem, como um milagre da arte desenhada num invólucro de vida.
            Meu amigo, que não perde jamais uma piada, viu-me cheia de entusiasmo, a falar simultaneamente em igrejas e ovos decorados, e saiu-se com essa: “Parece que nessa missa bizantina, em vez da homilia, eles fazem a omelete!” Foi um trocadilho que sintetiza, à perfeição, as impressões iniciais de quem descobre uma Ucrânia no Brasil...

Tércia Montenegro (crônica publicada hoje no jornal O Povo - e infelizmente "editada" em seu último parágrafo...)












domingo, 24 de fevereiro de 2013

Conto no Cândido

Amigos,

Está disponível para leitura, no site do jornal Cândido, da Biblioteca Pública do Paraná, o meu conto Um gesto raro, com lindas ilustrações de José Aguiar. O acesso se faz pelo endereço http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=316

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Oggi i domani


Casa de Cultura Italiana comemora 50 anos com aula-show e concerto nesta semana


A Casa de Cultura Italiana, vinculada à Universidade Federal do Ceará, promove programação especial alusiva a seu cinquentenário. Nessa quarta-feira (20), às 18h30min, será realizada aula-show com o cantor e multi-instrumentista italiano Vittorio de Scalzi, acompanhado dos músicos Armando Corsi e Edmondo Romano. O evento acontecerá no auditório José Albano, do Centro de Humanidades (Av. da Universidade, 2683 – Benfica) e é aberto ao público.
Na quinta-feira (21), às 20h, Vittorio e seus companheiros de banda apresentam o concerto "Il Suonatore Jones" no Theatro José de Alencar, com a participação especial da Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho. Ambas as atividades fazem parte do Ceará-Itália Festival, uma realização do Vice-Consulado Honorário da Itália de Fortaleza, cujo objetivo é estreitar os laços entre os povos cearense e italiano, por meio da divulgação da cultura e da música.
Mais informações podem ser acessadas no endereço eletrônico cearaitaliafestival.com.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Sustos de crônicas

Amigos,

Hoje saiu esta matéria, "Sustos de crônicas", no Vida & Arte, relativa à palestra (seguida de lançamento do meu livro Os Espantos) que farei logo mais, na UniChristus. Quem quiser ler, pode clicar em
http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2013/02/18/noticiasjornalvidaearte,3007248/sustos-de-cronicas.shtml

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O anti-carnaval de Curitiba

Amigos,

Para quem quiser um testemunho de alguém "de dentro" da cidade, recomendo o divertido texto do Tezza, no site abaixo:

http://www.cristovaotezza.com.br/textos/contos/p_carnavalcuritiba.htm

A minha impressão - de viajante de um dia chuvoso, apenas - não foi tão detalhada. Mas durante o passeio no ônibus turístico, garanto que me espantei com o deserto das ruas e o silêncio geral (exatamente o que eu buscava, aliás). Prova disso é a foto abaixo, um clique do centro de Curitiba em plena segunda-feira carnavalesca.

Aguardem postagens sobre minha estada em Prudentópolis - a Ucrânia brasileira!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O que desaparece


O QUE DESAPARECE

            A Nova antologia do conto russo, recentemente publicada pela editora 34, sob organização de Bruno Barreto Gomide, traz muitas histórias que precisam ser lidas, por motivos vários – quando não pelo embevecimento, pela forte reflexão que contêm. Neste último caso, enquadra-se “Liompa”, de Iuri Oliécha: não é exatamente um conto perfeito em composição literária, mas consegue despertar pensamentos com impacto e consistência.
A história trata de um moribundo, um velho a quem sobrevêm delírios em meio aos fragmentos de lucidez. Num desses instantes, lê-se a respeito de como a doença proibiu coisas antes tão corriqueiras ao personagem – e então foi como se as coisas se tornassem fantasmas, sonhos de outra existência: “Num único dia desapareceram sua rua, seu trabalho, o correio, os cavalos. De súbito, o desaparecimento chegou bem perto dele: o corredor se esgueirou de seu poder e em seu próprio quarto, bem debaixo de seus olhos, cessou o significado do sobretudo, do ferrolho da porta, dos chinelos. Ele sabia: a morte, em seu caminho até ele, ia anulando as coisas.”
Pois não é mesmo assim? À medida que uma pessoa envelhece, as coisas vão desaparecendo para ela, vão se tornando abstrações ou meros nomes de objetivos inalcançáveis. Países estrangeiros, profissões diferentes, aventuras, o próprio emprego – tudo isso fica destinado aos demais, aos que ainda “são ativos” ou se arriscam, têm pouca idade e juízo. Talvez muitas dessas experiências não façam falta à maioria dos idosos. Creio até que eles podem se satisfazer (ou se conformar?) com uma rotina. Afinal, há projetos que a gente perde sem lamento, quando percebe que eram ilusões ou correspondiam infimamente ao que se idealizou. Mas é triste saber que numa determinada época os planos se tornam impossíveis, desaparecem da perspectiva. E o que desaparece só aumenta, se é possível dizer isso. Com a longevidade ou a doença, o mundo se reduz, cabe num quarto. As ruas não são vistas; logo, parecem não existir. As roupas perdem a utilidade, os assuntos ficam repetitivos, os rostos novos já não surgem.
Tenho um amigo cujo pai é quase centenário e praticamente perdeu todos os prazeres sensitivos, exceto beber água, bem gelada. O resto das atividades – comer, banhar-se, ler algo, andar (sempre com assistência) – ficou doloroso ou cansativo demais. Beber água é seu único gesto de alegria pura, satisfação e liberdade. Penso nesse homem condenado a ver o mundo desaparecer, enquanto seu próprio corpo prepara também um afastamento, lentamente vai minguando as chances para si. A única coisa que deve impedi-lo de ofender a vida como um processo cruel, é o seu passado. Ele tem a possibilidade de dizer, em relação ao que deseja: eu já fiz isso – ainda que por um tempo mínimo, comparado ao que queria.
            É esse o projeto de velhice que cada um deveria ter: a construção de um rico passado. Se não se pode aprisionar o tempo, que ao menos ele seja gasto ao máximo, antes que desapareça.

Tércia Montenegro (crônica publicada hoje no jornal O Povo. Disponível também no site.)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A arte de ler com gatos

Encontrei essa divertida (e muito fiel) sequência de imagens num site que a amiga Lívia me indicou. Infelizmente, não soube quem era o/a artista por trás da assinatura "JR" - mas isso não é razão para deixar de prestigiar sua obra.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Gatos

"Caviloso. Essa palavra saiu de moda mas deveria ser reconduzida, não existe melhor definição para a alma do felino. E de certas pessoas que falam pouco e olham. Olham. Cavilosidade sugere cuidado, cave - aquele recôncavo onde o vinho envelhece. Na cave o gato se esconde, ele sabe do perigo. Mas o cachorro se expõe, inocente."
"(...) indolente, companhia voluptuosa dos contemplativos. Das bruxas cismarentas. Dos amantes da idade da razão e depois ainda, memória e cinza. Amei meu gato quando descobri Baudelaire, viens mon chat, sur mon coeur amoureux..." (Lygia Fagundes Telles)