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Esses meus dias de virose têm tido ao menos um lado produtivo: mergulhei na leitura d'Os sonâmbulos, do Hermann Broch: indicação do Kundera, n'A arte do romance.
A trilogia deste autor austríaco realmente impressiona, mas não porque inove no estilo ou no tema. Ao contrário, a simplicidade do enredo (voltado às miudezas do comportamento humano) e a forma de narrar indicam a pretensão modesta de um bom contador de histórias. No fundo, porém, esta ambição revela-se grandiosa, porque não é nada fácil envolver um leitor. Broch consegue ainda outra proeza, ao lidar com assuntos que envolvem o ridículo. Se levarmos em consideração que a maioria das pessoas considera o cômico como algo trivial ou até irrelevante, vemos como o escritor atinge um ponto culminante. Suas intrigas enlaçam o leitor através da inteligência, não do apelo emotivo. É instigante acompanhar suas críticas implacáveis, seu olhar de feroz ironia sobre o mundo. Além disso, há passagens que se aproximam do sabor machadiano - confira-se, por exemplo, o trecho a seguir:
"Bertrand teve de sorrir e sorriu tão amável e simpaticamente que Joachim não pôde deixar de sorrir também. Assim se sorriram amistosamente e as suas almas acenaram uma à outra pelas janelas dos olhos, um instante, como dois vizinhos que nunca trocaram entre si um cumprimento e por acaso chegam ao mesmo tempo à sacada, contentes e embaraçados com essa coincidência e esse cumprimento inesperado." (p.29)
Melhoras e excelentes leituras!
ResponderExcluirah o meu blog já está timidamente de volta ao ar. rs
Beijos Enormes