Voltei à minha fase cortazariana, seguindo o instinto que me levou ao livro comprado mais recentemente (embora meu intuito anterior fosse seguir o percurso cronológico de escrita do autor). Eu tinha ouvido muita controvérsia na época do lançamento de Papéis inesperados, e teve gente que me disse claramente para não ler este livro, se eu queria "manter a imagem" que fazia de Cortázar. Ora, eu sempre me senti bastante melancólica ao observar as obras de uma fase decadente, de algum artista que antes foi genial. O momento certo de parar é coisa sutilíssima - e o que dizer então das obras póstumas, que surgem à revelia de seus autores (geralmente mais interessados na qualidade que nas vendas - o contrário daquilo que motiva seus herdeiros e editores)? Assim, eu suspeitava que de fato essa publicação não seria lá grande coisa em termos estéticos, embora tivesse causado uma explosão mercadológica. Pois estava enganada - completamente enganada. Que bom!
Até agora, li apenas cinco textos, mas já baixei completamente a defesa e me deixei encantar. "Manuscrito encontrado junto a uma mão" foi o golpe definitivo, o texto que prova o quanto a literatura fantástica não é um apanhado de desvarios para os quais não se sabe impor um final. Cortázar era um intelectual estético - coisa rara! Sabia meditar sobre as ideias, explorá-las até os limites, testar suas possibilidades - e depois, sabia dizê-las de um jeito inigualável, com imagens anti-banais... Tudo aquilo que se quer numa literatura de verdade! É simples como ele dizia, na "Teoria do túnel": "O paraíso existe e só falta habitá-lo sem resistência."
Conhecendo seu blog e começando a seguir também daqui,parabéns pelos conteúdos de cada registro.Espero voltar mais vezes e comentar mais precisamente cada post porque agora estou fazendo uma leitura dinâmica de modo genérico.
ResponderExcluirAbraços,