LIVROS E BICHOS
sexta-feira, 2 de março de 2012
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Contra o suicídio II
Quem leu minha crônica intitulada "Contra o suicídio", publicada há cerca de um mês e disponível neste mesmo blog, pode agorar conferir como a atmosfera de ficção combina com as surrealidades da vida. Pois não é que a hipótese de uma censura ao termo suicídio começa a se esboçar realmente, para falar da morte voluntária de figuras famosas? O primeiro passo nesse sentido foi dado na mais recente biografia de Van Gogh, dos autores Steven Naifeh e Gregory White. Nessa obra, uma nova versão para o fim da vida do pintor é anunciada: Van Gogh não teria dado um tiro em si mesmo mas, ao contrário, foi baleado por disparos acidentais feitos por dois jovens. Confira a matéria no endereço
http://diversao.terra.com.br/arteecultura/noticias/0,,OI5422655-EI3615,00-Nova+biografia+de+Van+Gogh+diz+que+o+pintor+foi+assassinado.html
Agora será que podemos aguardar novas pesquisas reveladoras, desmentindo o suicídio de outras pessoas? Tudo é possível!
Em tempo: a ilustração para esta postagem traz os sapatos de Van Gogh porque, conforme dizem os especialistas, ninguém se suicida calçado (sic!).
domingo, 24 de julho de 2011
Amy
terça-feira, 1 de junho de 2010
Vá ao teatro!
Ainda me espanto com o susto de alguns colegas, quando constatam minha assídua freqüência ao teatro – apesar de eu não ser alguém “da área”. Ora, mas não parece lógico que o teatro, como toda arte, deva atingir sobretudo pessoas com outras práticas e ofícios, ou seja, o público em geral? Claro que os próprios artistas devem acompanhar os processos de seus pares, com objetivo de estudo, crítica ou apoio. Mas é a grande plateia, leiga e distante das técnicas, que costuma ser o principal alvo das empreitadas estéticas. Assim, não deveria ser motivo de choque o fato de se ver um ou dois espetáculos por semana (isso, fora da época de festivais, claro). Se uma pessoa vê idêntica quantidade de filmes no mesmo período – não sendo “da área” do cinema – não costuma ser encarada com estranheza... Ao contrário, essa média, para filmes, é considerada baixa. Por que, então, com o teatro o julgamento seria diferente?
Penso que um dos motivos ainda é o preconceito que se tem com as produções da terra. Afinal, não sobra cadeira vaga, quando uma sala traz atores globais – da mesma forma que os filmes hollywoodianos sempre são lotados. E o pior do preconceito é a prática que ele carrega, do “não vi e não gostei”: inibe-se qualquer chance de simpatia ou fruição, pelo simples boicote que as verdades estabelecidas exercem.
Na contramão desse pensamento, afirmo que as piores peças que já vi foram exatamente aquelas que traziam atores consagrados na telinha. Certa vez, inclusive, à saída de um desastre dramatúrgico aplaudido de pé por quase todos (devido à famosa atriz, figura comum na ilha de Caras), não me contive e comentei com a pessoa que me acompanhava: “Nossa! Foi péssimo!” Nunca esquecerei a expressão de uma moça que passava ao lado e me ouviu. Se ela tivesse encontrado na fila um E.T., seu medo não seria maior. Afinal, quem ousa questionar o que a mídia propaga?
Para quem teve o seu primeiro alumbramento teatral vendo Flor de obsessão, com um visceral Ricardo Guilherme, o caminho tem de ser outro. Não dá para se contentar com fórmulas ou estereótipos – ainda mais quando o teatro cearense tem tanto para oferecer, em matéria de criatividade e poética. Sinto orgulho de ser contemporânea de artistas maravilhosos e poder vê-los no tempo real e vivo que o teatro eterniza na mente de quem lá esteve – e viu.
Acompanhar o repertório do grupo Bagaceira, as peças do Cabauêba ou da Comédia Cearense; ver os trabalhos do Silvero Pereira, as ótimas propostas do Carri, ou conferir em cena os roteiros do Lira... tudo isso me dá uma satisfação incomparável, e não é por bairrismo (embora eu seja uma apaixonada pelo Ceará). Basta comparar a nossa qualidade teatral com alguns duvidosos espetáculos que vêm para cá, dos eixos mais festejados... Normalmente, ganhamos com vários pontos de vantagem!
Peças delicadas como O cantil, Revoar, Encantrago ou Tudo o que eu queria te dizer convivem numa cena que traz também a ousada maturidade de Abajur lilás e Rãmlet Soul, por exemplo. Mas é óbvio que neste espaço reduzido não eu conseguiria citar todos os espetáculos incríveis que já vi no teatro cearense – nem minha intenção é a de fazer listas. Tenho somente o impulso de celebrar: a cada vez que saio de uma sala teatral com as mãos ardidas de um aplauso sincero, sinto-me feliz. E para que não digam que sou hostil ao que vem de fora, lembro minha sensação quando o Ceará recebeu Os Sertões, do Oficina, e quando, no ano passado, Eugenio Barba veio ao Teatro José de Alencar. Sinto-me abençoada. É a arte que vence, apesar de tudo. Mas quem vence, acima de todos, somos nós – o público.
Tércia Montenegro (texto publicado na coluna Opinião, do jornal O Povo, em 02/06/2010)
quinta-feira, 20 de maio de 2010
O intruso denunciado
Por que não paras, relógio? Não me faças padecer... Cantava um conhecido do poeta Luiz Teixeira, amigo meu; assim ele me contou. E foi uma amiga escritora, Tércia Montenegro, quem denunciou em jornalescas, portanto diárias páginas esse intruso, segundo ela, o mais antipático dos pertences a nós impostos: Provavelmente a infância acaba no momento em que se aprende as horas. (...) Instalar a noção abstrata (e absurda) de que cada espaço entre um risco e outro representa cinco minutos força um amadurecimento repentino.
Tão longe estando, aqui em Nantes, me alcança a presença dos meus pares nas Letras... E graças à Literatura, não padeço, posto que deposto não tomba o relógio – nem o calendário. Não estando à altura deles, tampouco ao alcance dos seus braços, resta-me o que desde sempre me resta, o fio das linhas com que componho minha breve passagem por aqui. Vês, amiga, não és a única dramática... Vês, amigo, teu conhecido não estava sozinho a querer deter o Tempo.
O Tempo, mestre maior, tão severo que, diante dele, um a um caem todos os aprendizes... Assim seja, de outra maneira não seria. Ó Tempo, tende paciência conosco, tende paciência comigo – que olho tanto pro meu umbigo.
Desconfio, amigos, que não adianta essa adulação... O galope das horas atropela o espaço que separa a gente dos desencontros consigo. E eu não consigo outras trilhas que não sejam filhas da desesperança que me alcança, desprevenido talvez na saudade de minha gente, de gente assim, com o calor e o carinho de vocês.
Ah, refúgio meu, reino da Palavra, terra atemporal, momento sem lugar, aqui e agora sou todo teu. Fazei de mim o instrumento de Vossa melodia que desafia os dias... E no momento mesmo em que a noite me açoite, onde houver silêncio que eu leve um grão de Poesia, magrinha talvez, não se adia, alivia essa agonia sem perdão – de se saber de passagem na imensidão.
Foi-se com o Tempo a lucidez de minha pianista, grávida de mim um dia; foi-se com o Tempo a visão de meu mestre poliglota, senhor dos gens de mim que já havia; foi-se a música com que ela me animava, foi-se a leitura com que ele me acalentava; foi-se tudo com a foice do pêndulo que oscila e garimpa a ilusão que vacila frente à incógnita adiante...
Quisera rimassem melhor longevidade e serenidade, não fosse a idade fogo a meio lume a incendiar o que vira fumo e pó. Quisera, quero ainda que, na intimidade, sensibilidade sobreviva na rima em seu sufixo.
E assim contemplo o calendário, o relógio, a ampulheta, o metrônomo em coro a reger a fluidez sem fim em que escôo e ecôo meus versos avessos à sombra, vermelhos e tão simples, mas amigos da luz.
Não serei eu o intruso de passagem, nas tripas do Tempo plantado, teimando em continuar nas parcas linhas que o passado abrigou, que o presente acolhe e o futuro adivinha?
Nada pedir, nada esperar – tudo acolher, agradecer e passar. Sabedoria intangível, dirão vocês, eu sei, eu pressinto. Eu sinto que estas poucas sílabas são sinos a soar sem ciência do que será. Queiram me perdoar, eu preciso de falar. São as palavras meu abrigo, são vocês, leitores amigos, os destinatários destas correspondências que hão de se apagar, contudo a ecoar, a ecoar, a ecoar...
Henrique Beltrão
Em Nantes, 19 de maio de 2010, tendo lido “O Intruso da Casa”, de Tércia e com saudades dela e de Luiz, o poeta que cura.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
A cultura dos professores
Problema --> Por que os professores deveriam ser mais exigidos em frequência de atividades culturais do que os engenheiros, por exemplo, ou as empregadas domésticas?
Provável resposta de um(a) pedagogo(a) de dedo em riste e voz trêmula --> "Porque... porque os professores são responsáveis pela formação de nossas crianças e adolescentes, ora essa!"
Papo furado! Os responsáveis por 80% (já que a estatística impressiona) da formação de crianças e adolescentes são seus pais e não seus professores! De que adianta o professor aplicar duas horas do seu fim-de-semana para ir ao teatro ou à ópera por obrigação e ordens da diretoria? Ele achará isso tão cruel e injusto que poderá mesmo passar a seus alunos - ainda que inconscientemente - a antipatia por esses espetáculos que lhe foram impostos, na última reunião curricular.
Se o sujeito tem como conceito de diversão gastar o domingo na praia chupando patinha de caranguejo, não é possível fazer nada. Agora, se, ao contrário, a pessoa encontra prazer legítimo visitando exposições e museus, ou indo ao cinema ou ao teatro, ou lendo ficção... que ótimo! O mundo fica mais interessante por esse detalhe, esteja a pessoa no ramo profissional que for.
Moral da história: o trabalho de alguém é uma circunstância de vida, não é sua vida inteira. Essa circunstância não pode interferir na liberdade que se tem de fazer o que se quer durante o lazer. O grande nó de tudo - que a tal revista, naturalmente, esqueceu de apontar, é: Por que as atividades culturais deveriam ser uma obrigação para professores, alunos ou seres humanos, em geral? Por que a arte tem de ser enfiada goela abaixo (sendo que essa é a maneira infalível de criar chupadores de caranguejo)? Arte é prazer - nada menos que isso.
Convém lembrar a velha e sábia frase: "Se não der prazer, não faça!"
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Jean-Michel Folon
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Escrita e fotografia - pelo mágico Oz
(...)
"Ele se enche de vergonha e de constrangimento por olhar para todos de longe, de lado, como se todos só existissem para que deles fizesse uso em suas histórias. E com essa vergonha vem também uma angustiante aflição por sua estranheza constante, por sua incapacidade de tocar e ser tocado, por estar sua cabeça, durante todos os dias de sua vida, enfiada no pano preto da velha máquina fotográfica."
(OZ, Amós. Rimas da vida e da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, pp.90-1)