LIVROS E BICHOS

Este é o blog da Tércia Montenegro, dedicado preferencialmente a livros e bichos - mas o internauta munido de paciência também encontrará outros assuntos.
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terça-feira, 19 de março de 2013

O Trem

Pausa para inserir uma foto especial, com o elenco da peça O trem das onze: esse pessoal é demais!  
 Beatriz Aguera, Edgar Cardoso, Érica Ribeiro, Gizelle Faria, Lucas Sancho, Rodrigo Morais e Thaize Pinheiro.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Estreia "O Trem das Onze" em São Paulo





Memória, mistério e silêncio e a espera por um trem que nunca vem. Ou já passou?

Inspirado na obra "Linha Férrea" da escritora Tércia Montenegro, premiada pela revista CULT, a peça retrata as tragédias que aconteceram numa velha ferrovia. Os personagens encontram-se em situações-limite. 

O espetáculo busca estudar o comportamento do ser humano perante uma situação limite, fazendo com que este indivíduo revele seus instintos mais primitivos, evidenciando um lado que, quase sempre, é desconhecido pela sociedade, esta mesma que o faz carregar uma culpa sufocante e mortal.

Os caminhos se cruzam-se em histórias como a de um filho que pretende fazer um inusitado passeio com sua madrasta tetraplégica, uma procissão nos trilhos ou de uma bailarina que sofre de amor, passando por um homem que paga por um crime do passado, o administrador da ferrovia atormentado, uma presa que sonha em ser enterrada de santa e uma menina que deseja vingança. Todos estes personagens estão ligados . Seus caminhos se cruzam.

Um passeio, cercado de pessimismo, crueldade, misticismo e vingança.


Elenco: Beatriz Aguera, Edgar Cardoso, Érica Ribeiro, Gizelle Faria, Lucas Sancho, Rodrigo Morais e Thaize Pinheiro.

Dramaturgia e Direção: Lucas Sancho

Assistência de direção: Thaize Pinheiro

Preparação Vocal e Arranjos de Coro: Carol Capacle

Direção de Arte: O Grupo

Músicas: Daniel Groove

Serviço: de 5 a 27 de Março - Terças e Quartas às 21h - Espaço Cultural Pinho de Riga (Rua Conselheiro Ramalho, 599)

Contato: 11 97960.0180 (Lucas Sancho)


sábado, 1 de setembro de 2012

Nossa Cidade

Amigos,

Agendem: dia 15 de setembro estreia a peça Nossa cidade, com direção de Thiago Arrais. Ficará em cartaz sempre às 20 h dos sábados, no Passeio Público, até o dia 20 de outubro. Cliquem no cartaz abaixo para ampliá-lo.

sábado, 16 de junho de 2012

Festival Internacional de Artes Cênicas do Ceará

Amigos,

Até o dia 24 estará acontecendo o Festival Internacional de Artes Cênicas do Ceará, que promete muitíssimas coisas boas! Confiram a programação dos espetáculos no site do Theatro José de Alencar.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Antes da coisa toda começar

Já vi alguns espetáculos da companhia Armazém, e sempre gostei de sua assinatura cênica, grandiosa com os cenários que se desdobram, os espelhos, os artifícios de luz. Nesta recente peça, Antes da coisa toda começar, não é diferente: ontem saí realizada quanto a esses aspectos, e ainda tive a ótima surpresa dos momentos musicais - todos excelentes, e alguns bem divertidos - que permeiam a história. O grande problema foi o texto: pobre, cheio de lugares-comuns, com aqueles velhos paroxismos patéticos que me deixavam nauseada. Claro que isso interfere na atuação, por tabela - e, assim, só pude apreciar realmente o trabalho de Ricardo Martins (como Rufus, principalmente; como o Espectro, ele está engessadíssimo por gestos previsíveis) e Karla Tenório. Os dois se mostraram bastante versáteis e com excelente domínio de cena. Patrícia Selonk, ao contrário, irrita com sua voz idêntica que se desgasta sempre no mesmo papel (parece que não importa a peça; ela sempre fará a desesperada), e Tales Coutinho poderia ter sido mais bem aproveitado, também. Rosana Stavis encanta por sua voz incrível - mas a atuação como suicida é semelhante à de Patrícia: não convence.
Claro que apesar de tudo isso o saldo é positivo. Mas fica o ranço: cadê as peças perfeitas, que nos deixam plenamente realizados? Não é demais exigir isso dos artistas; aliás, contentar-se com menos seria desprezá-los.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Revista Baque

Ontem foi o lançamento da Baque - revista cênica idealizada por meu querido e talentosíssimo amigo Thiago Arrais, na parceria com Whashington Hemmes. A edição zero, disponível eletronicamente, está hospedada em conjunto com a revista Pã, de arte e cultura. Há um texto meu sobre a peça Foi, da companhia Vão. Pode ser conferido em http://revistabaque.com/revista/index.php/secoes/baque/204-a-peca-aos-pedacos.html

domingo, 22 de janeiro de 2012

A lua vem da Ásia & A música segundo Tom Jobim

Neste fim-de-semana tive ótimas diversões culturais - dentre elas, destaco o monólogo do Chico Díaz sobre o texto do Campos de Carvalho, n'A lua vem da Ásia. A peça é muito boa, embora no começo caia em certa monotonia: para quem conhece o livro, esta parte quase não ultrapassa uma recitação. Entretanto, quando o ator se desprende dos objetos cênicos da primeira parte, seu trabalho corporal se intensifica e se mostra em toda a expressividade. O final é impecável, com uma imagem lindíssima.

Recomendo também o documentário A música segundo Tom Jobim, que estreou recentemente. O único problema está no fato de que os artistas surgem e se vão da tela sem que seus nomes apareçam (são citados apenas nos créditos finais), e isso dá margem a que, num cinema, as pessoas fiquem aos cochichos, tentando adivinhar de quem se trata. Resultado: ninguém escuta nada por inteiro, com a fruição devida - e claro que há os mal educados, que partem para conversas inteiras durante o filme, como se estivessem num barzinho com música ao vivo. Vários "psssttt!!!" tiveram que acontecer hoje, por exemplo, para que uma obstinada velhinha tagarela calasse o bico. Apesar disso, o documentário vale a pena: nunca é demais rever Elis e Tom no dueto de "As águas de março" e - como curiosidade - há momentos engraçados, como o de Carlinhos Brown cantando "Luíza" num figurino completamente desconectado com a melodia...

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Para Mamíferos n°3!

LANÇAMENTO
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Para Mamíferos nº 3

Data: 5 de novembro de 2011 (sábado) – DIA NACIONAL DA CULTURA
Horário: 19h
Local: Auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (ao lado do Planetário)
Investimento: apenas R$ 10,00
Editores: Tércia Montenegro, Jesus Irajacy Costa, Pedro Salgueiro, Glauco Sobreira, Nerilson Moreira e Raymundo Netto
Colaboraram com esta edição: Henrique Beltrão, Karla Martins, Dodora Guimarães, Narcélio Limaverde, Everardo Norões, Luci Collin, Poeta de Meia-Tigela, Lúcio Cleto, Ricardo e Elizabeth Bezerra, Thiago Arrais e Pedro Rogério.

Durante o coquetel os editores e autores autografarão seus artigos e produção


Relise da revista de letras e artes Para Mamíferos

A Para Mamíferos, revista de Letras e Artes, independentemente editada por Tércia Montenegro, Jesus Irajacy Costa, Pedro Salgueiro, Glauco Sobreira, Nerilson Moreira e Raymundo Netto, surpreende sempre a cada edição.
Em seu terceiro número, traz na capa a assinatura de Leonilson, artista plástico cearense, nascido em 1957 e morto em 1993, em São Paulo, muito jovem, onde desde 1985, na concorrida Bienal de São Paulo, firmara sua carreira no cenário artístico contemporâneo, nacional e internacionalmente, com seu estilo, fosse em cores ou em preto e branco, de intensa paixão. Também é dedicada à memória desse nosso artista, ainda muito desconhecido por sua gente, as palavras de abertura pela curadora e consultora de artes, especialista em artes plásticas, Dodora Guimarães.
Maria Valéria Rezende, educadora popular e escritora paulista radicada na Paraíba, ganhadora do Prêmio Jabuti em 2009, traduzida e publicada em diversos países (Argentina, Itália, Portugal e Espanha), nos apresenta o conto “Pelas Superfícies”, além de breve biobibliografia.
A coluna “Literatrilhas” nos leva, pelos olhos e palavras do poeta, radialista e compositor Henrique Beltrão e da psicóloga e pesquisadora Karla Martins, a Nantes, na França (ou Bretanha?), onde “há de se dar de coração”. Então, merci pour la compagnie!
O entrevistado especial da edição veio por um “Resgate de Arquivo”. Com fotos inéditas ao público, Gilmar de Carvalho, jornalista, publicitário, pesquisador e ficcionista, fala de sua infância, de suas primeiras leituras, os primeiros escritos, o namoro com a Literatura, a iniciação jornalística, a perseguição pelo DOPS e a censura, os movimentos culturais cearenses, o teatro, o processo criativo e Parabélum 30 anos depois. IMPERDÍVEL!
“Interiores” ocupa o espaço “dossiê cearense” da nova edição. Sabido que muitos dos escritores cearenses, mesmo os que residem na Capital, vêm do interior, a Para Mamíferos voltou os olhos para “dentro”, em algumas das regiões do Ceará, e encontrou: Dimas Carvalho (Acaraú), Joan Edesson (Cedro), Luciano Bonfim (Crateús), Társio Pinheiro, Dércio Braúna, Kelson Oliveira (os três de Limoeiro do Norte) e Webston Moura (Morada Nova).
Um presente especialíssimo para os leitores e ouvintes da Para Mamíferos, desta vez, não vem da revista, mas do RÁDIO: Narcélio Limaverde, jornalista, radialista e autor de Senhoras e Senhores e de Fortaleza, História e Estórias: memórias de uma cidade, pioneiro e testemunha ocular (e auricular) da construção da história do rádio no Ceará; uma das vozes mais fiéis e confiáveis do povo cearense, por meio do jornalista Nerilson Moreira, nos pinta, em modestas oito páginas, o que a sua frase “O rádio é minha vida” resume com toda a verdade e beleza.
“Numa Outra Língua”, sessão dedicada à tradução inédita, o conto “El Barranco” de José Maria Arguedas (escritor e antropólogo peruano que estaria completando 100 anos em 2011) é passado a limpo por Everardo Norões, e os poemas da irlandesa Eiléan Ní Chilleanáin nos chegam pela voz da curitibana Luci Collin.
O registro fotográfico de Para Mamíferos ousou penetrar no mundo de répteis, insetos e fósseis de sucata do escultor metalista Lúcio Cleto (Mostra Reciclarte, Espaço Cultural dos Correios, Mostra 8 de maio – UNIFOR, dentre outros). O som dessa exposição vem da tigelira e da tigelavra do Poeta de Meia-Tigela (Alves de Aquino).
Na “Caixa de Espantos”, espaço dedicado à produção poética e de contos: Carlos Vazconcelos, Raymundo Netto, Carlos Emílio Corrêa Lima, Daniel Mazza, Majela Colares, Alan Mendonça, Jesus Irajacy Costa, Astolfo Lima Sandy e Ceronha Pontes.
Thiago Arrais, ator e professor do curso de Teatro da IFCE, pensa e repensa o teatro, cortinas abertas, da multidão, “por um corpo corajoso que se canse de esperar”.
A “desrotulação” da vida e da obra do goiano José J. Veiga, considerado um dos maiores expoentes do fantástico em nosso país, em “Cabacinha de água endurecida ou garrafa de coca-cola”, texto de Márton Tamás Gémes, doutor em literaturas de língua portuguesa pela Universidade de Köln/Alemanha. De quebra, sugestões de bibliografia sobre o autor e “Reversão”, conto não incluído em sua bibliografia oficial.
Pedro Rogério, radialista, compositor e doutor em Educação pela Universidade Federal do Ceará, analisa o “Pessoal do Ceará”, desta vez, com destaque para o compositor de “Cavalo Ferro” e de “Manera Fru Fru Manera”, dentre outros, Ricardo Bezerra, “continuador da antropofagia moderna de Mário e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e todos aqueles inquietos intelectuais (...) um tropicalista cearense que transcende os limites do óbvio”.
Na curiosa seção “Como Você Nunca Viu”, Airton Monte, o cronista do Benfica e d’O POVO, revela sua face ALIENista... Caso queira, um poster para parede de seu quarto!

Apoio Cultural
Queiroz Galvão
UNICRED

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Cabauêba no TJA

Não dá para perder!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A peça aos pedaços

            Foi – uma peça em pedaços, da companhia Vão, estreou quarta-feira passada num mirante de 360°, um cenário vivo de Fortaleza. Embora o espetáculo pudesse acontecer em diversos lugares, este escolhido (onde funcionava o antigo restaurante Platoh, na Torre Quixadá) adaptou-se de forma perfeita à proposta. Cada “pedaço”, fragmento ou esquete se passa numa fatia do ambiente, valorizando os elementos que a paisagem noturna oferece. A luz, o vento e o som do espaço externo entram em simbiose com a peça e colaboram para a atmosfera, inventando um tipo de  cumplicidade, uma conspiração positiva entre teatro e cidade.
            Jadeilson Feitosa, o único ator em cena, desdobra-se em histórias e caminhos abertos pelo texto e pela direção de Rafael Martins. A plateia transita de um local para outro – e tem suas emoções também deslocadas, conforme as alternâncias de humor ou melancolia expostas. No segundo “pedaço”, esse jogo alcança uma dimensão vertiginosa e desconcertante, própria para que se ponham em xeque questões referentes ao fazer teatral – e os espectadores, como parte integrante dessa cadeia, são envolvidos em dúvidas e manobras psíquicas. Nesse momento, o cenário  (na criação de Raíssa Starepravo) atinge grandeza simbólica: a mangueira de água funciona alternadamente como lanterna, microfone ou tubo de oxigênio, enquanto o ator se multiplica em personagens e enredos possíveis.
            No “pedaço três”, Jadeilson Feitosa alcança toda a sua extensão dramática, numa cena que não por acaso se apresenta literalmente suspensa. Um suporte metálico reproduz um novo mirante para o monólogo. O tema – uma relação de amor fracassada e conflituosa – lembra que tudo na vida passa por seu dilema, seu instante interrompido ou “pendurado”: uma fase de absurda solidão, ainda que se esteja diante do mundo, do formigueiro de luzes urbanas. As coisas ao final se reduzem à poeira, ao vento que carrega partículas do que quer que seja. A reflexão e a melodia, em tom de tristeza poética, remetem ao espetáculo anterior do grupo, o belíssimo En Passant.
            Mas Foi tem seus lances bem humorados, igualmente. As histórias de abertura e fechamento exploram essa tônica, embora não de forma idêntica. Na primeira, o riso talvez esteja mais na atuação que no enredo, abordando uma rotina (des)controlada em sua progressão de atos e objetos. No quarto “pedaço”, entretanto, o texto ganha um sabor de riso ancestral, com seus versos pícaros, suas situações de non sense, perfeitas para compor um retrato de facetas inconstantes. Esse retrato não é apenas o de um personagem, mas o de qualquer pessoa sujeita a desvios de destino, mudanças e escolhas imprevistas. Um modo criativo de selar o rodízio que a peça propôs – inclusive em termos físicos, já que durante a última cena o piso gira (de forma imperceptível, vale dizer).
Ao fim do espetáculo, todas as partes se juntam na dramaturgia: cada “pedaço” singular por sua ênfase, mas unido aos demais pela ligadura de tema ou estilo. Quem acompanha o trabalho desses talentosos artistas já sabe o que vai encontrar. Mas, dessa vez, por conta do espaço escolhido, ainda se acrescenta um horizonte mágico à experiência estética. 

Tércia Montenegro (crônica publicada hoje na coluna Opinião do jornal O Povo. Está disponível também no portal http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/06/08/noticiaopiniaojornal,2254023/a-peca-aos-pedacos.shtml)


                                                                                                                                      

quinta-feira, 2 de junho de 2011

FOI - uma peça aos pedaços

Olhaí a ótima dica:

FOI – Uma peça aos pedaços, espetáculo da Cia. Vão de teatro,
com texto e direção de Rafael Martins.
Quartas e quintas de junho, às 20h, na Torre Quixadá (Av. Barão
de Studart, 2360). Informações: 8654.1234/ 8801.7226
Ingressos: R$ 20 (inteira), R$10 (meia) – Capacidade 30 pessoas.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

As Apolíneas

Semana passada, assisti a dois espetáculos do Oficina Uzyna Uzona, aqui em Fortaleza. As bacantes e O banquete foram o último par da turnê Dionizíacas, que trouxe previsíveis controvérsias e comentários os mais ecléticos. Enquanto fenômeno artístico, as peças apresentadas são marcos históricos, claro – e há muitos méritos estéticos para relembrar. Pode-se falar da impressionante estrutura montada, criando uma nova forma de ser plateia, no Theatro José de Alencar. Ou então, pode-se elogiar a parte musical, com instantes gloriosos, ou quem sabe os recursos cênicos, ou os figurinos...

Nem tudo foi perfeição, porém – e é sempre saudável enxergar os deslizes, para afastar idolatrias. Os problemas com as Dionizíacas estiveram em miudezas técnicas (sobretudo com a sonoplastia) e em momentos de texto vazio, monótono ou – pior – atravessado por lugares-comuns. À parte esses detalhes, o público também atuou negativamente. É tentador confundir subversão com desordem, e imagino que para certas pessoas o espetáculo serviu somente como um pré-carnaval.

Foi no clima de “liberou geral”, por exemplo, que uma adolescente com folhagem na cabeça circulou por todas as partes, durante As bacantes. Louca para ser confundida com o elenco, ela se requebrava em várias direções, pouco se importando com a visibilidade alheia. Depois de desacatar uma funcionária do teatro, ela achou seu minuto de glória ao beijar profundamente um dos atores, no meio do palco.

A diferença entre o talento e a inconveniência é mais sutil do que parece. A festa que o Teatro da Multidão instaura torna-se bela e poética – mas, por mais que os vândalos anseiem, não chega a ser gratuita nem caótica. Existe um paradoxo possível que organiza o orgíaco Oficina, um rigor apolíneo que lhe dá o alicerce artístico. Sim, porque a irreverência, a nudez e o discurso libertário passam por ensaios, treinos e estudos. Nas Dionizíacas vêem-se ingredientes que aparecem n’Os Sertões: as mesmas cenas ligadas a ritos de iniciação, com simulações de sexo, vinho compartilhado, danças, ritmos e culturas que se entrelaçam.

Tais elementos, constantes no repertório do grupo, são uma pista do seu estilo e, mais do que isso, de sua proposta antropofágica. Ora, se há proposta artística, há seriedade – ainda que ela surja disfarçada. Mas como é difícil enxergar as máscaras num corpo nu! Entretanto, elas estão lá: têm de estar, se é teatro.

Se não houvesse disciplina (componente apolíneo) para sustentar o eixo dionisíaco, a equipe do Oficina não divulgaria, no início das peças, instruções de segurança e comportamento, mesmo que de um jeito informal. Não haveria canto em coro, texto recitado (decorado com rigor) nem cenas coreográficas. Não haveria referências contemporâneas nem clássicas – algumas tão discretas que chegavam a enternecer: foi o caso de certa iluminação que, em dado instante, transformou um ator no Baco de Caravaggio, com uvas e vestes iguais às da pintura.

Em suma, negar o profissionalismo do teatro Oficina para reduzi-lo a um delírio é ingenuidade. Essa temporada, Dionizíacas, criou uma celebração dúbia. Dionísio não exclui Apolo; tem de haver muita estrutura para que, em arte, aconteça a ruptura.



Tércia Montenegro (artigo publicado no jornal O Povo de hoje. Disponível em http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/02/02/noticiaopiniaojornal,2097080/as-apolineas.shtml)

sábado, 13 de novembro de 2010

O idiota - uma novela teatral


Um espetáculo que promete ser maravilhoso: O idiota, da Mundana Companhia. Estreia neste domingo, às 18h, no Teatro José de Alencar. A peça terá 7 horas de duração, com dois intervalos, e vai circular por vários espaços do teatro. E na quarta-feira, dia 17, às 15h, estarei lá, debatendo no foyer do TJA - juntamente com a professora de russo da USP, Elena Vassina - sobre a obra de Dostoiévski. O tema da nossa conversa vai ser: Dostoiévski, contemporâneo de ninguém. Oportunidade incrível para mergulhar mais uma vez no encantador e trágico universo eslavo...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

OBA! Teatro!

Vem coisa boa por aí! A partir de amanhã, 6 de agosto, o VI Festival de Teatro de Fortaleza estará em vigor! Serão homenageados B. de Paiva, Ricardo Guilherme, Antonieta Noronha e Yuri Yamamoto, e várias peças ótimas estarão em cartaz. A programação pode ser conferida em http://www.festivalteatrofortaleza.com.br/

terça-feira, 6 de julho de 2010

As incertezas

Um novo trabalho do grupo Bagaceira sempre surpreende. Seus espetáculos indicam buscas, experimentos inquietos à procura de novas linguagens, novas possibilidades teatrais. Em dez anos de carreira, seus artistas criaram um estilo inconfundível, enraizado por todos os espetáculos em aspectos de luz, figurino, texto ou atuação – mas isso jamais significou conformismo. Amadurecer um estilo não implica congelar-se em fórmulas, esquemas fáceis que dão certo para agradar ao público. Ao contrário, os trabalhos do Bagaceira sempre arriscaram, estiveram na linha fronteiriça das sensações complexas – seja com humor ou melancolia, erotismo ou efeito lúdico.
Dessa vez, com “Incerto”, a estranheza nasce com riso e amargura. Durante todo o espetáculo, existe a impressão paradoxal de que, pela metalinguagem, chega-se à vida em estado bruto. As reflexões sobre o teatro, seu valor ou necessidade para o próprio artista que o faz (e que às vezes o rejeita, saturado ou doído de decepções) levam a um entranhado de cenas extraídas do cotidiano de ensaios. A peça surgiu como urgência do grupo teatral, num momento em que dúvidas e conflitos interferiam de maneira inegável, e o prazer e os limites do ofício estavam em pauta.
Elegendo como principal argumento da peça a incerteza, percebe-se como tudo o que não parece inteiro ou totalmente construído incomoda. Incomodam as perguntas e inconstâncias. Questionar a verdade cansa e desgasta; destrói as relações, às vezes. Mas admitir essa necessidade é um ato corajoso, talvez o único ato de uma coragem especificamente humana. Todos os outros atos de bravura são movidos pelos básicos instintos de qualquer animal, menos esse: o impulso de indagar, expor-se insatisfeito, incompleto, dar a cara a tapa, ver-se pelos olhos dos outros e, assim, distanciar-se de si e encontrar, senão a identidade, pelo menos o caminho.
O caminho que se trilha, com recuos e bifurcações, poeira e neblina é o trajeto primário que o Bagaceira ousa mostrar, como quem abre as vísceras. Se é aflitivo olhar por dentro, a dor vem do fato de que todos nos identificamos com algum tipo de crise – mas poucos sabemos, desse ponto, extrair a criação. São muito raros os que fazem do processo o meio em si, com o grande objetivo de objetivar-se: olhar-se como personagem, para além do espelho, numa dimensão universal que, se por um lado se agiganta, nem por isso esconde as fraquezas e fissuras. Declarar as perturbações na superfície da arte: é esse o grande gesto, a escolha do espetáculo “Incerto”. Porque as angústias sempre foram matriz e motor dos inventos estéticos (e não só deles, mas de qualquer invento da humanidade) – porém restava admitir isso sem artifícios, escancarando os bastidores como quem alarga a alma.
Quando, magicamente, despe-se de alegorias, esse teatro se torna emblemático – porque, por um momento, a plateia esquece que há um texto (que em algumas passagens até se compõe com rimas, mostrando como foi construído e bem pensado). O público se engana ao considerar que as cenas vêm ao acaso, espontâneas e hesitantes, como se a peça ainda estivesse por começar – aquela peça que estamos acostumados a ver pronta, redonda e bem marcada.
“Incerto” celebra a truncagem, os fragmentos dinâmicos das relações entre as pessoas, os picos e abismos da geografia interna de cada um. Confessa o estar sempre “no quase”, e pela frustração admitida alcança a completude – não no sentido de acomodar-se num espaço fechado, mas justamente pelo contrário: abrindo os olhos para a dispersão, chega-se a um foco; embora depois se mude para outro, e ainda outro, ou outro... O autoconhecimento é teraupêutico porque primeiro desestabiliza, para que enfim se encontre um eixo, apesar de fluido.
A ilusão de que se faz vida, e não teatro, é a grande fisgada nesse trabalho do Bagaceira, sua solução que, por debaixo de toda a instabilidade exposta, vem muito bem consolidada. Afinal, as fronteiras entre ofício e paixão, carreira e prazer são mesmo assim: escorregadias ou titubeantes, plenas de uma incerteza tipicamente humana.

Tércia Montenegro – 03/07/2010

terça-feira, 29 de junho de 2010

Nova estreia do Bagaceira!!!!

A mais nova peça teatral do grupo Bagaceira, em comemoração aos 10 anos do grupo. Estreia neste sábado.

sábado, 5 de junho de 2010

Chico & Guus



Fim-de-semana quase todo dedicado à escrita de um artigo sobre o Chico (de volta à tese? Ai, ai, se o tema não fosse tão maravilhoso, eu poderia ficar de saco cheio... Mas nesse caso o tédio é impossível, claro!). Para relaxar, também escuto outro músico de olhos claros e melodias límpidas: Guus!
Amanhã terei um interregno para o teatro: João Botão, do Grupo Máquina, às 17h, e Dias de setembro (pela 3a vez?), do Cabauêba, às 19h. Ambos no TJA.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Vá ao teatro!

Ainda me espanto com o susto de alguns colegas, quando constatam minha assídua freqüência ao teatro – apesar de eu não ser alguém “da área”. Ora, mas não parece lógico que o teatro, como toda arte, deva atingir sobretudo pessoas com outras práticas e ofícios, ou seja, o público em geral? Claro que os próprios artistas devem acompanhar os processos de seus pares, com objetivo de estudo, crítica ou apoio. Mas é a grande plateia, leiga e distante das técnicas, que costuma ser o principal alvo das empreitadas estéticas. Assim, não deveria ser motivo de choque o fato de se ver um ou dois espetáculos por semana (isso, fora da época de festivais, claro). Se uma pessoa vê idêntica quantidade de filmes no mesmo período – não sendo “da área” do cinema – não costuma ser encarada com estranheza... Ao contrário, essa média, para filmes, é considerada baixa. Por que, então, com o teatro o julgamento seria diferente?

Penso que um dos motivos ainda é o preconceito que se tem com as produções da terra. Afinal, não sobra cadeira vaga, quando uma sala traz atores globais – da mesma forma que os filmes hollywoodianos sempre são lotados. E o pior do preconceito é a prática que ele carrega, do “não vi e não gostei”: inibe-se qualquer chance de simpatia ou fruição, pelo simples boicote que as verdades estabelecidas exercem.

Na contramão desse pensamento, afirmo que as piores peças que já vi foram exatamente aquelas que traziam atores consagrados na telinha. Certa vez, inclusive, à saída de um desastre dramatúrgico aplaudido de pé por quase todos (devido à famosa atriz, figura comum na ilha de Caras), não me contive e comentei com a pessoa que me acompanhava: “Nossa! Foi péssimo!” Nunca esquecerei a expressão de uma moça que passava ao lado e me ouviu. Se ela tivesse encontrado na fila um E.T., seu medo não seria maior. Afinal, quem ousa questionar o que a mídia propaga?

Para quem teve o seu primeiro alumbramento teatral vendo Flor de obsessão, com um visceral Ricardo Guilherme, o caminho tem de ser outro. Não dá para se contentar com fórmulas ou estereótipos – ainda mais quando o teatro cearense tem tanto para oferecer, em matéria de criatividade e poética. Sinto orgulho de ser contemporânea de artistas maravilhosos e poder vê-los no tempo real e vivo que o teatro eterniza na mente de quem lá esteve – e viu.

Acompanhar o repertório do grupo Bagaceira, as peças do Cabauêba ou da Comédia Cearense; ver os trabalhos do Silvero Pereira, as ótimas propostas do Carri, ou conferir em cena os roteiros do Lira... tudo isso me dá uma satisfação incomparável, e não é por bairrismo (embora eu seja uma apaixonada pelo Ceará). Basta comparar a nossa qualidade teatral com alguns duvidosos espetáculos que vêm para cá, dos eixos mais festejados... Normalmente, ganhamos com vários pontos de vantagem!

Peças delicadas como O cantil, Revoar, Encantrago ou Tudo o que eu queria te dizer convivem numa cena que traz também a ousada maturidade de Abajur lilás e Rãmlet Soul, por exemplo. Mas é óbvio que neste espaço reduzido não eu conseguiria citar todos os espetáculos incríveis que já vi no teatro cearense – nem minha intenção é a de fazer listas. Tenho somente o impulso de celebrar: a cada vez que saio de uma sala teatral com as mãos ardidas de um aplauso sincero, sinto-me feliz. E para que não digam que sou hostil ao que vem de fora, lembro minha sensação quando o Ceará recebeu Os Sertões, do Oficina, e quando, no ano passado, Eugenio Barba veio ao Teatro José de Alencar. Sinto-me abençoada. É a arte que vence, apesar de tudo. Mas quem vence, acima de todos, somos nós – o público.


Tércia Montenegro (texto publicado na coluna Opinião, do jornal O Povo, em 02/06/2010)