Amigos,
Mudei para uma nova plataforma blogueira: agora vocês poderão ler minhas postagens com layout mais limpo e organizado. Cliquem em http://literatercia.wordpress.com/
A proposta do "Livros e bichos" continua, só mudou o espaço, então esta é a minha última entrada por aqui. Espero a companhia de vocês na outra página!
Livros e bichos
LIVROS E BICHOS
Este é o blog da Tércia Montenegro, dedicado preferencialmente a livros e bichos - mas o internauta munido de paciência também encontrará outros assuntos.
terça-feira, 2 de abril de 2013
quarta-feira, 27 de março de 2013
Álvares ou Fagundes?
Conforme comentei na crônica abaixo, diante da San Fran fica esta misteriosa imagem, do busto de Fagundes Varela com o nome e os dados de Álvares de Azevedo. Quem errou, afinal, na hora de homenagear um poeta romântico? Ou será que a intenção foi essa mesma, de fazer um dois em um e aproveitar o que ambos tinham de melhor - os versos e a aparência? Pensando bem, ficaria meio estranho ver um busto com a cabecinha tristonha do Álvares... O Fagundes é muito mais triunfante! Se bem que os seus poemas também valiam uma inscrição.
segunda-feira, 25 de março de 2013
Uma semana em Sampa
UMA SEMANA EM SAMPA
O
motivo inicial era assistir à linda peça O trem das onze, uma nova adaptação
que o Lucas Sancho fez, do meu livro Linha Férrea – mas é claro que achei
vários pretextos para visitar São Paulo. Experimentei a cidade como nunca havia
feito: participei da passeata “Fora, Feliciano”, fui a um ensaio de concerto
(para ouvir a missa glagolítica de Leos Janácek, sob a regência de Osmo Vänskä),
empolguei-me com os páreos do Jóquei Clube (apesar de não ter ganho qualquer
aposta) e me passei por arquiteta para entrar na Vila Penteado.
Óbvio
que também fui a museus – e lá estavam Monet, Rembrandt, Goya e Velázquez,
quase me pondo de joelhos em pleno Masp. No Ibirapuera, depois de ser ameaçada
por uma mãe-cisne (eu fotografava os seus filhotes muito de perto), entrei na
Oca, onde os “tesouros do Vaticano” se exibiam: pinturas e bustos de papas,
galhetas preciosíssimas e casulas bordadas a ouro, píxides e missais. Isso
aconteceu justamente no dia em que o argentino Francisco fazia os jornais do
mundo inteiro ficarem idênticos.
“Vou
te comprar um bebezinho da Seven Boys”, disse o meu namorado, e por um segundo
pensei em tráfico de crianças ou, na melhor das hipóteses, um boneco
infantilóide que eu deveria aceitar, com um sorriso. Felizmente, aquele era
apenas o termo paulista para indicar um bolinho de mel ou maçã. Em culinária,
aliás, São Paulo é uma coisa à parte: da boa pizza com os amigos até o shimeji
na Liberdade, tudo merece elogios enfáticos. A capital dos excessos deve estar
acostumada – o superlativo anda nos metrôs, com as enchentes humanas
pontilhando escadas; a hipérbole agiganta prédios espelhados, de lojas e
serviços incalculáveis.
Mas
eu estava interessada na cidade histórica, principalmente. Havia começado o
itinerário pelo cemitério da Consolação, onde Álvares de Azevedo transitava (e
talvez hoje ali passe, como fantasma). O mapa indicou os locais em que Mário e
Oswald de Andrade, Lobato, Tarsila do Amaral e Paulo Emílio Salles Gomes foram
enterrados. Este último, cineasta, foi o grande companheiro de Lygia Fagundes
Telles. Em homenagem a ela, visitei também a Faculdade de Direito do Largo São
Francisco – a San Fran –, onde Lygia estudou. Na praça, conforme os relatos da escritora,
notei a placa comemorativa ao Álvares de Azevedo, mas com a cabeça trocada pela
de outro romântico, Fagundes Varela. E, como as nuvens conspiram a favor,
quando saía da Catedral, meio estonteada com as abóbadas longuíssimas, ainda
encontrei a sede da OAB que traz o nome de Goffredo Telles, o primeiro marido
de Lygia...
Em
Sampa também vi ótimos filmes, topei com uma escultura da Louise Bourgeois, um
painel dos Gêmeos, um desfile de naturiciclismo – tudo isso em cinco dias. Mas
a cidade é tão intensa que, se agora eu lá voltasse, descobriria outros
inesgotáveis temas de susto e aprendizado.
Tércia
Montenegro (crônica publicada hoje no jornal O Povo)
quinta-feira, 21 de março de 2013
Fora, Feliciano
Amigos,
A passeata do "Fora, Feliciano", em SP, foi um dos eventos mais pulsantes que eu já vi. É bom saber que as pessoas ainda não estão blasés o suficiente para ignorar o autoritarismo e a arrogância absurda desses que se dizem líderes. (In)Feliciano quem acredita nesse tipo de fé que segrega e exclui as pessoas.
Algumas fotos para reforçar nosso espírito - e continuamos contando o tempo: até quando esse sujeito vai ficar no cargo?
A passeata do "Fora, Feliciano", em SP, foi um dos eventos mais pulsantes que eu já vi. É bom saber que as pessoas ainda não estão blasés o suficiente para ignorar o autoritarismo e a arrogância absurda desses que se dizem líderes. (In)Feliciano quem acredita nesse tipo de fé que segrega e exclui as pessoas.
Algumas fotos para reforçar nosso espírito - e continuamos contando o tempo: até quando esse sujeito vai ficar no cargo?
terça-feira, 19 de março de 2013
O Trem
Pausa para inserir uma foto especial, com o elenco da peça O trem das onze: esse pessoal é demais!
Beatriz Aguera, Edgar Cardoso, Érica Ribeiro, Gizelle Faria, Lucas Sancho, Rodrigo Morais e Thaize Pinheiro.
Beatriz Aguera, Edgar Cardoso, Érica Ribeiro, Gizelle Faria, Lucas Sancho, Rodrigo Morais e Thaize Pinheiro.
sexta-feira, 15 de março de 2013
O predestinado - A cada 15
De volta de Sampa, onde encontrei amigos e vivi uma programação intensa (nada menos do que quatro exposições, três filmes, duas peças teatrais e um concerto, além da visita a igrejas, cemitério, jóquei clube etc etc), tento retomar a rotina, já com mil prazos pendentes - todos a gerar aquela "angústia gostosa" de a gente não saber se consegue e no final acabar conseguindo. Uma parada neste blog, portanto, não será impossível, ao menos por duas semanas. Mas por enquanto recomendo o site da Grua, minha editora - e no projeto "A cada 15", está o meu texto O predestinado, nesta quinzena.
Quem quiser, pode ler em http://www.grualivros.com.br/a-cada-15/o-predestinado-tercia-montenegro
Quem quiser, pode ler em http://www.grualivros.com.br/a-cada-15/o-predestinado-tercia-montenegro
quarta-feira, 13 de março de 2013
Saltos do Paraná
SALTOS
DO PARANÁ
Prudentópolis não cabe
numa crônica: é por isso que volto ao tema. Para além de suas belezas
ucranianas, esta terra é conhecida pelas cachoeiras gigantes e pela festa
nacional do feijão preto, em agosto. Como viajei no carnaval, deixei de
conhecer a hiperbólica feijoada (que, dizem, já entrou nos recordes) – mas, em
compensação, tirei um dia inteiro para andar pela zona rural. Avisei ao guia do
meu interesse por igrejas bizantinas, incrustadas nas áreas agrícolas e
faxinais. Óbvio, porém, que não fiquei imune aos encantos da paisagem.
Aprendi a distinguir as
cores das plantações de soja, café e fumo. “As folhas do fumo são amarelas; depois
de colhido, o produto vai para a estufa até ficar seco e quebradiço. Em
seguida, a empresa tabagista lhe acrescenta umas quinhentas substâncias
cancerígenas e o prepara para a venda” – comentou o guia, enquanto acelerava o
jipe. Estávamos a caminho do Salto São João, passando pelo povoado Galícia, com
sua bela igreja de São Miguel em frente a uma casa de jardim colorido por
hortênsias e crianças loiras.
Enchi meus olhos com
outras flores, dálias, girassóis – e mais eucaliptos e pinheiros às margens do
caminho. Rumo ao Salto São Sebastião, plantações de milho nas encostas íngremes
deram origem à expressão “plantar com espingarda e colher com laço”, mostrando o
esforço de semear em ângulos tão difíceis. Mas aquela era a Serra da Esperança,
então tudo podia acontecer, inclusive o aparecimento da Igreja da
Transfiguração de Nosso Senhor, redonda, com cinco cúpulas brilhando de luxo
numa zona agrícola...
Estava chovendo, e a
trilha que nos levava à principal atração, o Salto São Francisco, cobriu-se de
lama. Eu me agarrava a galhos e pedras, tentando não voltar com uma fratura
exposta. Em certa altura do trecho, usei um cajado como bengala, sentindo-me
uma espécie de feiticeira e lembrando que Visconde de Taunay por ali passara em
1886, também debaixo de forte chuva. Tentava me motivar, pensando que o autor
de Inocência
avançara por 6 km a pé “em local muito escabroso e difícil”, conforme escreveu
no livro Paisagens brasileiras.
Quando finalmente
contemplei o Salto gigante, com quase duzentos metros de queda, senti o êxtase do
viajante realizado. Num segundo, a neblina se desfez, abrindo a visão da
chapada com seu véu de água interminável. Aí a natureza me disse coisas na
linguagem da imensidão – que, ao contrário do que se pensa, é muito discreta e
suave.
Tércia Montenegro
(crônica publicada hoje no jornal O Povo)
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
Estreia "O Trem das Onze" em São Paulo
Memória, mistério e silêncio e a espera por um trem que nunca vem. Ou já passou?
Inspirado na obra "Linha Férrea" da escritora Tércia Montenegro, premiada pela revista CULT, a peça retrata as tragédias que aconteceram numa velha ferrovia. Os personagens encontram-se em situações-limite.
O espetáculo busca estudar o comportamento do ser humano perante uma situação limite, fazendo com que este indivíduo revele seus instintos mais primitivos, evidenciando um lado que, quase sempre, é desconhecido pela sociedade, esta mesma que o faz carregar uma culpa sufocante e mortal.
Os caminhos se cruzam-se em histórias como a de um filho que pretende fazer um inusitado passeio com sua madrasta tetraplégica, uma procissão nos trilhos ou de uma bailarina que sofre de amor, passando por um homem que paga por um crime do passado, o administrador da ferrovia atormentado, uma presa que sonha em ser enterrada de santa e uma menina que deseja vingança. Todos estes personagens estão ligados . Seus caminhos se cruzam.
Um passeio, cercado de pessimismo, crueldade, misticismo e vingança.
Elenco: Beatriz Aguera, Edgar Cardoso, Érica Ribeiro, Gizelle Faria, Lucas Sancho, Rodrigo Morais e Thaize Pinheiro.
Dramaturgia e Direção: Lucas Sancho
Assistência de direção: Thaize Pinheiro
Preparação Vocal e Arranjos de Coro: Carol Capacle
Direção de Arte: O Grupo
Músicas: Daniel Groove
Serviço: de 5 a 27 de Março - Terças e Quartas às 21h - Espaço Cultural Pinho de Riga (Rua Conselheiro Ramalho, 599)
Contato: 11 97960.0180 (Lucas Sancho)
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Conto sobre futebol
Amigos,
Vejam esta notícia sobre mais uma antologia ótima, organizada pelo Ruffato. Desta vez, o tema é futebol, e eu me sinto muito feliz em poder participar deste "time" (com o perdão do trocadilho inevitável).
Vamos aguardar, que logo, logo essa coletânea estará pronta!
http://www.publishnews.com.br/ telas/clipping/detalhes.aspx? id=72256
Vejam esta notícia sobre mais uma antologia ótima, organizada pelo Ruffato. Desta vez, o tema é futebol, e eu me sinto muito feliz em poder participar deste "time" (com o perdão do trocadilho inevitável).
Vamos aguardar, que logo, logo essa coletânea estará pronta!
http://www.publishnews.com.br/
Seleção brasileira de contos
O Estado de S. Paulo - 23/02/2013 - Maria Fernanda Rodrigues
Coletânea organizada por Luiz Ruffato será lançada em Frankfurt
Luiz Ruffato organizou e sua editora alemã, a Assoziation, lançará na Feira de Frankfurt, em outubro, a coletânea Entre as Quatro Linhas - Contos Brasileiros Sobre Futebol,
adiantou a coluna Babel. A coletânea terá contos de 15 autores: Mário
Araújo, Fernando Bonassi, Ronaldo Correia de Brito, Eliane Brum, Flávio
Carneiro, André de Leones, Tatiana Salem Levy, Adriana Lisboa, Ana Paula
Maia, Tércia Montenegro, Marcelo Moutinho, Rogério Pereira, Carola
Saavedra, André Sant’Anna e CristovãoTezza. Além disso, a coluna afirmou
que a renomada Suhrkamp, casa de Brecht e mais recentemente de Marcelo
Ferroni e Daniel Galera, prepara revista com o perfil de editoras,
editores e autores brasileiros com quem trabalha.
Carnaval na Ucrânia
CARNAVAL
NA UCRÂNIA
O amigo Urik pensou que
eu tinha sido vítima de um sequestro, quando contei que estive em
Prudentópolis, no feriado. Ao contrário, viajei por espontânea vontade –
garanti – e não poderia desejar um carnaval melhor, justamente por não haver qualquer espírito carnavalesco
no interior do Paraná. Escolhi Prudentópolis tão logo soube que 81% dos
imigrantes ucranianos que vieram para o nosso país se estabeleceram lá: minha
paixão pela cultura eslava se eriçou, com a possibilidade de visitar
igrejas bizantinas. Em pleno carnaval, eu trocaria o som de forró e
axé por missas cantadas no ritual de São Crisóstomo; substituiria cerveja
ou patinhas de caranguejo pela degustação de perohê, borstch e holopti.
Embarquei para a “terra
dos pinheirais” cheia de expectativas – e não me frustrei. Cada detalhe da
paisagem, repleta de monjoleiros num terreno ondulado a perder de vista, era
motivo de êxtase. As pessoas também – com o seu jeito simples e educado, de
rosto muito branco e olhos claros – me fizeram sentir acolhida. “Mas veio de
tão longe, fazer o quê?” – perguntavam, com certa vergonha. Quando eu respondia
que era escritora, todos ficavam solícitos, emprestando livros, mostrando
fotos, documentos. D. Meroslawa Krevei, curadora do Museu do Milênio, transportou-me
a 1896, quando chegaram as carroças de Henrique Kremmer, trazendo as primeiras
levas de imigrantes eslavos. Em Prudentópolis, eles introduziram as casas de
madeira, com lambrequins nas platibandas. Trouxeram o seu bordado típico, seus
teares, sua música (com os banduristas, que ainda hoje tocam em festas) e seu
idioma que – ai! – durante a época de “nacionalização” imposta por Vargas,
ficou proibido. Mas ainda assim os descendentes da Ucrânia tentaram salvar a
presença de sua língua no Brasil – e os padres de São Josafat, para burlar a
fiscalização (que exigia missas em português), faziam o sermão de joelhos,
voltados para o altar.
A Igreja Católica
Ucraniana incorporou muitos rituais populares pré-cristãos, como a manufatura
de pêssankas (ou pisankas, para os poloneses). Do verbo “pessaty”, que
significa “escrever”, nasceu o nome dessa pintura delicadíssima, feita na casca
de ovos. Pude conhecer a artesã Vera Daciuk, que me mostrou o processo mágico de
primeiro retirar clara e gema por um orifício minúsculo, feito com uma seringa.
Depois, o ovo (de galinha, de codorna ou até mesmo de avestruz!) é pintado com
cera de abelha em bico de pena aquecido por uma vela, antes de ser
repetidamente mergulhado em anelina (uma para cada cor). Na limpeza final, com
vinagre, o colorido e os símbolos traçados surgem, como um milagre da arte
desenhada num invólucro de vida.
Meu amigo, que não
perde jamais uma piada, viu-me cheia de entusiasmo, a falar simultaneamente em
igrejas e ovos decorados, e saiu-se com essa: “Parece que nessa missa
bizantina, em vez da homilia, eles fazem a omelete!” Foi um trocadilho que
sintetiza, à perfeição, as impressões iniciais de quem descobre uma Ucrânia no
Brasil...
Tércia
Montenegro (crônica publicada hoje no jornal O Povo - e infelizmente "editada" em seu último parágrafo...)
Assinar:
Postagens (Atom)