LIVROS E BICHOS

Este é o blog da Tércia Montenegro, dedicado preferencialmente a livros e bichos - mas o internauta munido de paciência também encontrará outros assuntos.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Romances


Leio A arte do romance, do Kundera, e, embora este livro não seja absolutamente um manual, suas reflexões trazem bons aconselhamentos. O que mais me interessou até agora foi o capítulo inicial, que trata da paralisia contemporânea, do rodar em torno de velhas ideias e convicções, para repetir fórmulas confortáveis - tudo o que existe de estéril, em termos de arte. O romance, ao contrário, tem sempre algo a descobrir, e carrega a "sabedoria da incerteza".
O "turbilhão da redução", mania atual que persegue estereótipos e comanda o gosto através das mídias, é um veneno para a essência - sempre complexa - de um romance. A única forma de este gênero sobreviver efetivamente (com criatividade, não por mera reprodução, mas significando mudança ou descoberta), nos dias de hoje, está na caminhada "contra o progresso do mundo" - e aqui Kundera rejeita os valores nada valiosos que nos foram impingidos pela educação, pelo comércio, pelos costumes religiosos etc. Tudo o que representa resposta pronta ou rápida é antiromanesco. Não se trata, óbvio, da defesa de narrativas necessariamente extensas, ou unas, sem a tal fragmentação pós-moderna ou o que quer que seja. O que Kundera celebra é um espírito de inventividade e indagação que só pode persistir longe de soluções pasteurizadas, todas essas que explodem nas propagandas e nas modas frenéticas.
Olhar para si, com calma e disposição, e perguntar pelo que pode ser novo, é um gesto vital para o romancista. E este "novo" não se confunde com o hermético, ou com o vanguardista - que, de resto, já tem sabor de passado. É o novo na esfera individual, a única onde circulamos, afinal, por mais que o mundo (virtual ou globalizado) queira afirmar o contrário.

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