AS
FOBIAS
Há mistérios que
circundam os medos peculiares. Para certas pessoas, uma situação de terror pode
ser desencadeada por um objeto ou situação trivial. De tanto conhecer fobias
alheias, aprendi a respeitá-las – mas não deixo de achar algumas bem esquisitas.
Às vezes, penso que a atitude pode ser confundida com uma excentricidade ou
simples repulsa. A fobia clássica, entretanto, domina por inteiro o indivíduo,
reduz seus nervos a frangalhos. É o que leva um sujeito musculoso a gritar
feito um bebezinho, diante de abelhas; ou o que desespera uma dondoca, capaz de
quebrar os saltos altos numa correria para fugir de um sapo absolutamente
imóvel. A fobia é uma coisa íntima, intransferível. Há quem chore de pavor
diante do mar, e não por medo das profundezas ou da violência das ondas, mas
por intolerância à espuma. Aquele rendilhado líquido causa nojo em certas almas
frágeis...
Houve aquela vez em que
uma amiga entrou na minha casa e deu um grito ao ver a cabeça de ex-voto (que
comprei por ser parecida com Drummond), na estante da sala. Ficou tão
transtornada que não conseguia olhar para o objeto; pediu-me que o cobrisse com
um lenço e depois fugiu para a cozinha, onde me contou que o seu pior medo era
receber uma máscara mortuária pelo correio. Tentei argumentar que não tinha recebido
a cabeça, mas a comprara no Mercado Central e, além disso, ela não fora
esculpida no molde de nenhum defunto – mas a amiga estava nervosa demais. Tomou
um copo d’água e inventou compromissos, para se despedir.
Outra colega me relatou
o seu pânico por banheiras. De piscina, não tinha medo nenhum, conforme
explicou. O problema eram as banheiras, esmaltadas ou cromadas, com hidromassagem
ou sem, pés de garra ou não... todos os modelos lhe tiravam o fôlego e
produziam calafrios. Um psicanalista poderia descobrir a origem dessa reação,
mas eu apenas me espantei.
Minha história
preferida, porém, é a mais bizarra. Trata da fobia que atacou uma pobre moça
interiorana, recém-chegada a nossa capital. Em vez de se amedrontar com o
trânsito e os aspectos temíveis de alguns monstros, digo, carros, a jovem
apavorou-se com garrafas. Claro que ela conhecia garrafas de antes; é esquisito
imaginar um lugar onde elas não existam. Mas foi em Fortaleza que o susto
apareceu – e continuou. Até hoje a mocinha não pode ficar diante de uma
garrafa, seja de que tipo for. É imediatamente acometida por tremedeira
nervosa, com suores frios.
Os médicos sugeriram
que o seu repúdio era uma resposta ao alcoolismo de um tio. Entretanto, a jovem
jamais tivera grande contato com o parente, e também não fazia distinção quanto
ao conteúdo das garrafas: contivessem vinho, água, suco ou absinto, sua atitude
era idêntica. Outra prova de que a associação não era feita com o líquido e sim
com a forma da garrafa, é
que a moça podia beber em paz qualquer dose que lhe aparecesse servida num
copo. Se, porém, visse a garrafa, começava o nervosismo. Por causa dessa fobia,
a garota perdeu vários empregos: nunca pôde ser garçonete ou caixa de
supermercado. Ela perdeu até mesmo o noivo, quando ele propôs levá-la a um
boliche...
Tércia
Montenegro (crônica publicada hoje, no jornal O Povo. Disponível também em http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2012/05/09/noticiasjornalopiniao,2835694/as-fobias.shtml)
Saudações Tércia Montenegro,
ResponderExcluirA fobia é algo que realmente nos paralisa. Lembro-me que nos tempos de criança tinha medo do mar... Na verdade, tinha medo das espumas que vinham em alta velocidade e na minha direção...Rs Coisa de criança mesmo. Acredito que todos nós temos um medo ou mais. Ele nos acompanha a vida toda. Medo de altura, medo de um lugar desconhecido, medo de pessoas estanhas... Temos medo de tudo que é novo! Talvez, isso seja uma tática natural ou um mero instinto de sobrevivência.
Algumas pessoas tem medo de se apaixonar ou de se apegar a alguém, principalmente, se viveu uma experiência ruim no passado. Parece que temos um livrinho publicado na cabeça com todas as situações que já nos fizeram sofrer. Daí entramos no piloto automático... Gostar de alguém? Pra que? Se posso sofrer de novo... Rs
O fato é que não podemos deixar que o medo nos domine! Precisamos enfrentar os nossos medos mais íntimos e nos libertar dessa incômoda crisálida. Devemos ser mais fortes que o nosso medo, caso contrário iremos sempre viver pela metade.
É incrível como nós, seres humanos, temos a capacidade de criar novos medos... Sempre imaginando que os nossos medos são os piores! Se temos o potencial para criar novos medos também devemos ter a competência para eliminá-los. Vamos viver sem medo? Rs
Roberto Cipriano
O MAIOR MEDO DO SER HUMANO!
ExcluirO maior medo do ser humano, talvez, seja o de ser julgado... Principalmente, se for julgado injustamente. Algumas pessoas até dizem que não se importam com que os outros falam ou deixam de falar a seu respeito. ...Mas será mesmo que lá no fundo não há uma preocupaçãozinha?
A regra parece ser a seguinte: se é alguém a quem não tenho afinidade, me julgar... Não estou nem ai. Se é alguém que gosto, me julgar... Daí muda tudo... Bate aquele vazio existencial com um pouquinho de melancolia. Mas o que podemos fazer a respeito?
Ser humanizado e viver em sociedade não é nada fácil. Até nos blogs são assim... Você é julgado por ouvir certo tipo música, por publicar um texto que achou interessante, por escrever umas bobagens de vez em quando... Rs Puxa, por que será que as pessoas não se libertam desse tipo de atitude? Errar também faz parte da vida. O propósito maior não é agradar alguém especificamente. É se expressar conforme a sua essência.
A nossa espécie é considerada a mais “evoluída” porque somos completamente distintos uns dos outros. Temos angustias existenciais que os outros animais não possuem. A magia está em ser diferente, pensar diferente... E mesmo assim, conseguir viver em harmonia com o próximo. A grandeza do ser humano está em saber lidar com as suas diferenças.
Sempre será mais fácil, apontar, fazer um comentário malicioso ou desdenhar alguém. Difícil é fazer um elogio sincero, pedir perdão ou tentar compreender um ponto de vista diferente do nosso.
O lado mais excitante da vida é saber que podemos aprender todos os dias com os nossos erros. É saber que podemos ser melhores a cada dia, e o mais importante: é saber que podemos viver sem culpa quando agimos de acordo com os nossos princípios. Julgamentos sempre existirão.
Roberto Cipriano
tenho fobia a robertos.
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