Acabei de ler As Hortensias, do Felisberto Hernández, na linda edição da Grua em parceria com a Editorial Yaugurú, uruguaia. A sensação de reviver o estilo deste autor tão singular, que eu havia conhecido com os contos de O cavalo perdido e outras histórias, foi ótima! E agora creio que consegui formular o que antes havia intuído: uma semelhança de atmosfera que lembra muito a literatura de Roberto Arlt. Não se trata de proximidade através de temas ou de linguagem; é uma espécie de visão de mundo que os dois autores partilham. Ambos conhecem os absurdos que se escondem na realidade e sabem narrá-los com total descontração e simplicidade, mas sem perder o bom toque de ironia. Estou mencionando uma impressão que me veio, e que não cheguei a ver corroborada em nenhum estudo, mas para mim isso é muito forte: Felisberto Hernández e Roberto Arlt são irmãos literários. Façam a experiência de ler As Hortensias e depois passem para Os sete loucos ou O lança-chamas, ou vice-versa. Vocês estarão no mesmo universo criativo. Não por acaso, os dois autores nasceram no princípio do século XX, em países vizinhos, de mesma língua. Se chegaram algum dia a se encontrar, para mim é uma incógnita - mas não preciso dessa certeza para colocá-los bem juntos, na biblioteca.
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