Continuo com a leitura dos surrealistas (e, de tanto ler autores franceses em edições de língua espanhola, percebo como é cada vez mais urgente que eu planeje uma viagem para a França...). Após René Crevel, escolhi Raymond Russel, cujo Locus Solus me faz lembrar As Hortensias, do Feliberto Hernández, que comentei há alguns dias. A mesma ideia de um lugar doméstico dominado por engrenagens bizarras, ou por fetiches absurdos criados por seus donos, impera nos dois livros. Ora, assim também é inevitável que eu recorde minha recente visita ao México, com o seu museu Ripley. Antes de embarcar para a terra de Frida Kahlo, deixei uma postagem, neste blog, sobre o jogo das coincidências que me atraía a conferir esse museu, obrigatoriamente. Depois, de maneira que considero imperdoável, silenciei sobre o assunto, e apenas alguns amigos próximos souberam do motivo: o museu me pareceu mais engenhoso do que mágico, feito para agradar a mentalidades juvenis. Surrealidade me parece coisa bastante séria, embora não deixe de ser engraçada, às vezes; o problema é tratá-la com um apelo promocional exagerado (coisa que esse museu certamente faz). Mas esqueçamos o infame lado comercial, para que as boas recordações retornem...Durante a visita, fiz uma lista de peças e informações curiosas. Acompanhem abaixo a síntese do acervo do museu Ripley:
- um fetiche xamã de mandíbula de cervo;
- sandálias chinesas, da dinastia Manchú (com a dimensão do pé feminino ideal, que não devia ultrapassar 6 cm!);
- ovos de avestruz (um único ovo pode alimentar 12 pessoas e sua casca serve para transportar água no deserto);
- pinturas feitas em teias de aranha;
- uma réplica da Mona Lisa feita com 64 fatias de pão tostado (acho que essa nem o Vik Muniz faria...Confiram na imagem abaixo)
- um vestido feito com cabelo humano (argh!);
- uma pintura diatômica (fique sabendo que os diátomos são algas minúsculas que se encontram nas gotas da água do mar!)
- um vinho de Hong Kong, feito com fetos de rata (aaargh!).
- a foto de um homem que nasceu com duas pupilas em cada olho.
Se essa coleção não for la crème de la crème do Surrealismo, eu não sei o que pode ser...Locus Solus, do Russel, traz uma narrativa que "passeia" por um ambiente semelhante ao do museu Ripley. Ficaram interessados?
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