LIVROS E BICHOS
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
IX Semana de Letras da UFC
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Dia dos professores
sábado, 15 de outubro de 2011
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Violência contra os professores
Para saber mais a respeito do movimento de greve dos professores estaduais, sugiro o endereço da APEOC:
http://www.apeoc.org.br/
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Queridos alunos
Todo final de semestre ou ano letivo, experimento a despedida. As férias chegam, com a ausência de tantas companhias, vozes, rostos que se fizeram familiares. Mesmo em encontros limitados por horários e ambientes, a imprevisibilidade sempre aconteceu – as boas surpresas das opiniões, dos argumentos, do brilhantismo de uns ou da dúvida de outros construíram o mosaico humano de cada turma, cada sala de aula.
O pretexto de um estudo acadêmico sobre arte, língua ou sociedade é meu trampolim para questões essenciais. O magistério vira um exercício de convivências, conhecimentos mútuos. Como professora, claro que organizo um programa didático e cumpro a rotina de avaliação, prazos etc – mas sei que isso é apenas o ritual, a superfície que sustenta minha verdadeira função de trocar aprendizados e experiências. Tantas vezes não me vejo como expectadora ou ouvinte de maravilhosos argumentos e testemunhos dos estudantes! Conviver com eles, no mínimo, traz a sensação positiva de um afeto silencioso, desse querer-bem formalizado pelas circunstâncias, mas nem por isso menos profundo.
O que me comove e atrai na condição do “ser aluno” é a sua permanente jovialidade. Não importa a faixa etária: quem se dispõe a aprender se reveste de um frescor, de um tipo de limpidez que só a curiosidade é capaz de criar. A disposição para lidar com o desconhecido é um ato de coragem, de atração vertiginosa; é um desejo de aventura que os não acomodados carregam pela vida inteira. Quem acha que já aprendeu tudo se fossilizou na própria limitação, abdicou de surpresas e espantos tão importantes para o ânimo que nos faz humanos. Por causa dessa característica, jamais renunciei a minha própria condição de aluna – papel que assumo no atual curso de italiano, nas aulas de ioga ou natação. Necessito lembrar a sensação de estar “do outro lado”; preciso manter o referencial do aprendiz, suas expectativas e interesses – mas, sobretudo, preciso mensurar tudo o que ainda não sei, para manter a humildade indispensável.
Meus alunos são objeto de admiração e respeito. Quando os conheço de modo mais próximo, numa relação que ultrapassa os corredores e se prolonga anos afora, constato a riqueza de cada mundo que um dia cruzou com o meu. Descubro neles a prática artística, pois muitos hoje são músicos, atores, dramaturgos ou escritores, além de profissionais com diversas outras sensibilidades. A felicidade de reencontrá-los para um cinema ou café, um espetáculo ou simples conversa é a realização daquilo que todo aluno em estado latente anuncia: a promessa de uma grande amizade. Alguns realmente tornam-se amigos, companheiros, pessoas queridas para além de toda diferença, e chegamos a um nível de cumplicidade tão aprimorado, que tempos depois até faz graça pensar que nos conhecemos em sala de aula.
Por essas voltas do destino sou levada a dizer que há, sim, profissões abençoadas – e ainda que o magistério seja desvalorizado, com todos os problemas que já estamos exaustos de repetir, esta é uma área que nos permite um ganho singular: o prêmio de conhecer muitas pessoas, que – benza Deus! – chegam para nos desacomodar e nos salvar da mesmice.
Tércia Montenegro (crônica publicada em 16/06/2010, na coluna Opínião, do jornal O Povo)