LIVROS E BICHOS
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Convite para a Lua
Na próxima terça-feira, dia 2 de março, estarei no Café da Lua, na livraria Lua Nova (em frente ao shopping Benfica, em Fortaleza), falando sobre minha ficção para adultos. Todos estão convidados para a conversa, que vai acontecer de 18h às 20h, mediada pela querida Fernanda Meireles.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
A cultura dos professores
Problema --> Por que os professores deveriam ser mais exigidos em frequência de atividades culturais do que os engenheiros, por exemplo, ou as empregadas domésticas?
Provável resposta de um(a) pedagogo(a) de dedo em riste e voz trêmula --> "Porque... porque os professores são responsáveis pela formação de nossas crianças e adolescentes, ora essa!"
Papo furado! Os responsáveis por 80% (já que a estatística impressiona) da formação de crianças e adolescentes são seus pais e não seus professores! De que adianta o professor aplicar duas horas do seu fim-de-semana para ir ao teatro ou à ópera por obrigação e ordens da diretoria? Ele achará isso tão cruel e injusto que poderá mesmo passar a seus alunos - ainda que inconscientemente - a antipatia por esses espetáculos que lhe foram impostos, na última reunião curricular.
Se o sujeito tem como conceito de diversão gastar o domingo na praia chupando patinha de caranguejo, não é possível fazer nada. Agora, se, ao contrário, a pessoa encontra prazer legítimo visitando exposições e museus, ou indo ao cinema ou ao teatro, ou lendo ficção... que ótimo! O mundo fica mais interessante por esse detalhe, esteja a pessoa no ramo profissional que for.
Moral da história: o trabalho de alguém é uma circunstância de vida, não é sua vida inteira. Essa circunstância não pode interferir na liberdade que se tem de fazer o que se quer durante o lazer. O grande nó de tudo - que a tal revista, naturalmente, esqueceu de apontar, é: Por que as atividades culturais deveriam ser uma obrigação para professores, alunos ou seres humanos, em geral? Por que a arte tem de ser enfiada goela abaixo (sendo que essa é a maneira infalível de criar chupadores de caranguejo)? Arte é prazer - nada menos que isso.
Convém lembrar a velha e sábia frase: "Se não der prazer, não faça!"
O céu e as viagens
Provavelmente eu não me enquadro como típica viajante, já que levo comigo o desejo de voltar. Porém, às vezes quero crer que não sou uma simples turista à procura de roteiros e lembrancinhas exóticas. Observadora seria a classe mais fiel ao modo como me sinto. Entretanto, normalmente observa-se o que é novo, diferente. Em viagens, não é preciso ser curioso para aprender - as informações e peculiaridades vêm a todo instante: nos rostos, nas paisagens, na língua... Por isso, realizo melhor o exercício da observação em lugares que não são meus (parece que o hábito faz a gente reconhecer e não mais enxergar) e sinto-me feliz e útil para mim mesma quando posso me desligar da rotina.
Quando não estou viajando, recorro a alternativas artísticas, óbvio. Filmes são práticos (se forem de fato bons, despasteurizados dessa liga enjoativa de comédia universitária ou conspiração policial/terrorista) e tenho comentado vários por aqui, em parte para fortalecer minha memória em relação a eles. Nos últimos dias, revi um Bertolucci antigo, O céu que nos protege - belíssimo e delicado, com uma história que instiga a reflexão sobre o verdadeiro aventureiro, o viajante. Ora, ninguém menos que Paul Bowles poderia tê-la escrito - ele, que viveu em muitos países e absorveu sua violência e cultura para a alquimia literária. Lembro que seu conto "A presa delicada" é uma obra-prima que provoca um golpe no estômago (e também , como na história do filme, se passa no Saara).
Os personagens de Bowles não têm nada a perder; são desgarrados do mundo, caminham sob o peso de um fatalismo que nos persegue a todos - eles, porém, percebem isso. Têm noção de sua fragilidade perante a vida, de sua inconsciência. Por isso, são viajantes: não pensam em voltar porque sabem que não existe volta, e o tempo conduz a uma só direção. Nada de melancolia nessa verdade; apenas um jeito sábio de justificar o hedonismo (para quem considera a aventura um prazer, e não um incômodo). Afinal, precisamos sempre explicar à sociedade porque agimos assim ou assado - principalmente se nossa ação é inusitada ou incomum.
Se um dia eu sair de mochila nas costas por conta de uma reviravolta súbita, buscarei eum Bowles um fundamento filosófico que sossegue os espantados, um argumento que cale a boca dos piores medrosos, que são os que se apavoram por si e pelos outros.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Carta a Cecília Meireles
Minha querida Cecília,
Escrevo-te pela primeira vez, como se fosses íntima, bem próxima de minha convivência. Sobretudo escrevo-te como se pudesse ter uma resposta, fingindo não dar conta de teu desaparecimento, há mais de quatro décadas. Apenas a literatura é capaz de milagres dessa natureza.
Lembro que li pela primeira vez teus versos quando era criança – brinquei com as rimas de Ou isto ou aquilo, aprendendo que a palavra é flexível. Depois, passei para as crônicas de viagem e para a vaga música de outros poemas. Visitei os inconfidentes com teu Romanceiro, participei de retratos, canções e tantos naufrágios. Sim, minha querida, talvez os naufrágios tenham sido o meu principal encanto. Eu, que nunca poderia viver distante do mar, encontrei a perfeita ressonância naqueles acordes de água e pedra.
Mais tarde, curiosa de outros detalhes, descobri coincidências entre nós – o magistério, o misticismo, a solidão indispensável. Aprendi com tua história que a morte pode ser suavemente celebrada. Contigo, visitei o Oriente e encontrei tua irmã de poesia, Gabriela Mistral (aliás, Lucila Godoy Alcayaga). Bisbilhotei tua correspondência com o Mário de Andrade e tive a delícia dos segredos encontrados. Acompanhei um pouco tua rotina, a paixão pelo folclore, por flores e silêncio. Também conheci tuas filhas e netos, palmilhei muitos de teus passos – tudo pelo velho milagre da literatura.
É por isso, Cecília, que hoje arrisco escrever esta carta: para que saibas que não compreendo inteiramente os mistérios que já desvendaste, mas, assim mesmo, ler teus versos me tranqüiliza. Recordo que o instante existe, que a vida agora está completa – nada mais é necessário. Talvez eu apenas queira de vez em quando contemplar tua foto, pensando na verdade de teus olhos claros. Olhinhos de gato.
Beijos da sempre leitora
Tércia Montenegro / Fortaleza, 12 de dezembro de 2007 (publicado pela primeira vez no jornal O Povo)
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Um amor de pelúcia
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Umbigo sem fundo + filmes
É claro que a crítica exagerou ao chamar esta obra de "épica" - ou então, o conceito já se desmantelou, como muita coisa nesta era pós-pós. Mas, sem grandes pretensões (ou talvez justamente por não tê-las), esta é uma boa leitura. O traço de Dash é grotesco, o que combina com o caráter de suas personagens. Muitas soluções de movimento são impressionantes, nestes quadrinhos: eles têm ritmo e sabem trabalhar o monocromático e os espaços vazios.
Foi bom relaxar de um político romance do Agualusa (A Conjura) com este Umbigo sem fundo.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Jean-Michel Folon
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Crimes de autor
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Iemanjá
Lista de felicidade
2. Comer um brownie crocante-macio.
3. Tomar um espresso daqueles bem fortes - e não ter insônia depois.
4. Esquecer que o relógio existe.
5. Ler numa rede posta na varanda, com três gatos deitados ao redor.
6. Sair para fotografar.