Já me conformei com o fato de ser uma pessoa extremamente visual - o que, em contrapartida, me faz pouco sensível às sonoridades. Não que eu despreze boa música (quem o faria?), mas sou capaz de passar dias ou semanas sem tomar a iniciativa de "parar para ouvir uma canção". Em geral, o silêncio me satisfaz e tranquiliza tanto quanto uma boa melodia.
Os hábitos, porém, são feitos para serem quebrados de vez em quando. De maneira que, nos últimos tempos, tenho me forçado a integrar mais música em meu cotidiano. Não do modo como integro a leitura, a fotografia ou a pintura, claro (a música sempre ficará em segundo plano). Mas faço um esforço no sentido de recordar o quanto de belo existe nessa arte.
Como impulso puxa impulso, mal formulei meu desejo interior, já as energias foram postas em ação. Uma reunião no grupo de pesquisa da fac foi o ponto de partida: a musicóloga Érica lançou o fascínio do modo mixolídio numa canção do Chico César: Beradeiro. O erudito, pelo que remonta aos clássicos criadores de tudo, e o popular, pelo revivido sempre em nosso interior nordestino (e por falar nisso, ai que saudades do Cariri!!).
A parte dois do impulso veio com o convite, via plataforma Sócrates, para ver O homem que engarrafava nuvens, um filme que eu queria já faz tempo conferir. Gostei. E fiquei lembrando as magias de Humberto e Luiz.
Não há jeito: minha raiz cearense pulsa, apesar de eu ter nascido em capital. É um desgosto que tenho, não ter meu lado B, meu chão escondido, com casinha de parentes a visitar nas férias, num tempo de passeio a pé, homem e bicho lado a lado, na casa e no trabalho. Sinto falta desse ritmo-baião, que logo me transporta para cenas rurais, visual que sou. E sinto falta dos ruídos da mata, dos besouros, do galo de manhãzinha, e do fru-fru na areia que faz um cão, ao se espojar na terra. Essas, para mim, são melodias de afeto, algo que desde pequena eu quis cultivar e nunca pude. O velho sonho de morar numa fazenda cheia de bichos e livros - talvez um dia, quem sabe, eu ainda o realize...
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