Caros amigos,
Se puderem, confiram abaixo minha crônica publicada hoje. Está disponível também no meu blog http://literatercia.blogspot.com/ e no site do jornal O Povo: http://www.2011.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2012/01/18/noticiaopiniaojornal,2375614/as-resolucoes.shtml
AS RESOLUÇÕES
Um amigo me pergunta quais as resoluções que estabeleci para 2012. Pois bem: antes que comece a revelar planos impublicáveis, acho que o tema merece uma digressão.
É comum que as pessoas sintam prazer em planejar, elaborar roteiros para os próprios dias. Listar os desejos pode trazer uma satisfação tão grande que em alguns casos até substitui os objetivos a serem alcançados. Assim, certos indivíduos têm uma força insuperável na elaboração dos sonhos. São, por exemplo, capazes de organizar com detalhes uma viagem – pesquisam preços de passagens, hotéis, passeios... mas nunca viajam de fato. Os planos bastam para esgotar suas perspectivas e, de algum modo, compensam sua falta de coragem.
Há também os que planejam sem qualquer intenção de cumprir. Avisam aos familiares que agora é sério: a partir de janeiro, não bebem mais, nem fumam. Prometem de tudo, apenas para ouvir os aplausos com refrões do tipo “Até que enfim” ou “É isso aí!”. Mas basta caminhar pelas calçadas na primeira quinzena do ano para encontrar os recaídos.
Boa parte da energia de renovação que se convenciona para a época do ano-novo é completamente ilusória. Basta pensar no quão diferente seria a sensação da passagem de datas, se usássemos um calendário chinês ou islâmico, ou se no dia 31 de dezembro estivéssemos cruzando o globo, dentro de um avião. No entanto, mesmo com essa consciência de que os pontos cruciais são relativos, ninguém deixa de ouvir os profetas na televisão, cheios de colares, certezas e mandalas. Se uma pessoa decide passar o réveillon dormindo, como eu tantas vezes fiz, é vista como uma exótica profana.
Todavia, com ou sem datas marcantes, é preciso ocasionalmente traçar decisões. Eu esboçaria dezenas, mas prefiro fazer uma triagem e chegar a uma única meta. Alguns propósitos não dependem de mim, de forma que é inútil desejá-los; outros são viáveis, mas aborrecidos ou complexos demais; outros não me interessam. Sobra apenas um anseio, um objetivo para a vida inteira. A lentidão – que para mim se torna uma paradoxal questão de urgência – é o que mais desejo. Um ritmo lento para saborear a rotina, sem desespero ou solicitações frenéticas.
Estou convencida de que a calma é um degrau para a sabedoria (que deve ser uma escada bem longa). Quem pensa o contrário, que responda: alguém já viu o Dalai-Lama em disparada pelos caminhos tibetanos, afobando-se para não chegar atrasado?
Tércia Montenegro (escritora, fotógrafa e professora da UFC)
Hummm ... acho que você enrolou, enrolou (bem enrolado e bem escrito), mas deixou as "resoluções" de 2012 de fora! Então, lá vão as minhas sugestões (no blog): http://www.alfanumericus.blogspot.com/2012/01/resolucoes-para-2012.html
ResponderExcluirAh, eu também já passei o réveillon dormindo, e foi bem tranquilo!
Parabéns pelo texto.
Achei perfeito seu "desprezo" pelas resoluções de fim de ano ao mesmo tempo que revelou sua busca pela serenidade da lentidão. Não conheço nada mais elegante que a tranquilidade. Um tempo continuum bem legal para você.
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